ARTIGOS
Coisas da Pesca
Iniciei na pescaria já com mais de quarenta anos, e só porque me ensinaram a pescar com iscas artificiais, pois não gosto e nunca gostei de pescaria com iscas naturais. Por esse motivo não tenho tanta experiência quanto alguns amigos meus, sendo ainda, a maioria mais moços do que eu.
Pois bem. Um desses amigos, foi durante um bom tempo, meu grande parceiro de pescarias. Lembro-me quando iniciei não sabia nada de nó e linhas e ele, se divertindo, me ensinava alguma coisa. Porque se divertindo? Porque ele esperava que eu tivesse problemas para dar boas risadas daí então me corrigia ou mostrava como se fazia. Outra coisa curiosa é que ele não gostava de peixe difícil de pescar. Com ele tinha que ser pesca fácil. Essa coisa de ficar tentando entender o que está acontecendo, como é que peixe quer comer ou como a isca deve ser apresentada não era com ele. Adivinhem o que ele mais gostava de pescar? Isso mesmo traíras, pois taí um peixe que não tem frescura, passou na frente a dentada é certa. Assisti durante muito tempo um irmão meu e seus amigos, pescarem traíra com espinhel, e nunca achei graça nessa pescaria. Porém pescar trairas com isca artificial de superfície é maravilhoso, pois o ataque do peixe na isca é tão violento que chama a atenção de todos que estão perto, e para quem está pescando então nem se fala. Pois era essa pescaria que ele mais gostava. Ele possuía um vocabulário todo especial, e para quem gostasse de pescar trairas ele chamava de trairento.
Um belo dia fomos pescar na cidade de Canela no Rio Grande do Sul, num frio de mais ou menos cinco graus, num lago particular onde haviam trutas em grande quantidade (pesca fácil). Nesse dia, quando dei o primeiro pincho, minha isca se foi com tudo. Ele que tinha assistido de camarote desde o momento em que comecei a arrumar as tralhas, não teve a menor complacência, botou-se a rir que nem um desgraçado. Após ter curtido bastante a minha surpresa e o meu erro, chegou até mim e disse.
-Tu não sabe dar nó em linha de pesca? Então vou te ensinar.
E com um sorriso que não saia da cara dele, me ensinou a fazer um nó que uso até hoje para prender os anzóis, snaps, plugs, spiner-baits, em fim, quase tudo. Esse nó é muito fácil de fazer e um dos mais seguros que já utilizei. É o chamado UNI, que também pode ser usado para emendar linhas (UNI-UNI). Desde que aprendi esse nó nunca mais perdi nem isca nem peixe. Ao meu amigo resta meu agradecimento, pois não é todo dia que alguém nos ensina algo tão bom e tão útil. O pior de tudo é que quase toda vez que faço esse nó me lembro do sorriso dele e das belas pescarias que fizemos.