Publisher: 22575973 ~ FALANDO DE PESCARIAS:
http://compre.vc/v2/44c09192f

segunda-feira, 12 de agosto de 2013

EXTINÇÃO DO RIO SÃO FRANCISCO?

Eu comecei a pescar no rio São Francisco por volta de 1968, perto da cidade de Lagoa da Prata, levado por um amigo e usando um rancho de pesca que ficava dentro do canavial da usina de açúcar. A localização nos permitia pescar no Chicão e também no seu afluente rio Bambuí,  que ficava próximo. Na época eu era pouco experiente, meu material era inadequado, mas os veteranos pegavam com frequência grandes surubins e dourados (apesar de o esgoto da usina naquela época ser jogado diretamente no rio). A gente se contentava com os mandis, piaus e as grandes piranhas.
Depois, passei a pescar em Três Marias, perto da Cachoeira Grande, junto ao rancho do Telesfo, pescador profissional. Ainda não estava devidamente equipado para pescar, pois embora tivesse um motor de popa de sociedade, não tinha o equipamento adequado para os grandes peixes. Ali, pescávamos piaus, mandis, matrinxãs, e às vezes um moleque ou dourado.
Já no início dos anos 80, comecei a pescar com minha pequena turma na barra do Guaicuí, que é o ponto onde o rio das Velhas deságua no São Francisco. Tínhamos um barco e motor de popa, e acampávamos perto das ruínas da igreja histórica que ali existe. Passamos a deixar o barco aos cuidados do Wilson, pescador profissional que morava ali, e íamos lá duas ou três vezes por ano.
Continuando rio abaixo, na direção do norte de Minas,  em 1985 comprei uma cota do Carcará Clube de Pesca, que fica a 15 km de Januária, pela estrada que liga essa cidade a Itacarambi. Ali realmente fizemos ótimas pescarias, já com dois barcos e dois motores. Pegamos muitos moleques, dourados, cambevas, piaus verdadeiros, e meu irmão Paulo em certa ocasião pegou um surubim de 43 quilos (para minha inveja). Pescamos lá por vários anos, até que iniciei, em 2000, minha atividade de consultor e guia de pesca, partindo para outros destinos de pesca no Brasil.
Estou relatando isso para demonstrar que tive uma grande convivência com os ambientes do São Francisco, e pude constatar o que vem acontecendo com o rio, sentindo-me impotente para ajudar a preservá-lo.
Convivi com pescadores amadores inescrupulosos, matando peixes muito além da cota permitida, sem respeitar tamanhos, e usando equipamentos nada esportivos, como pindas (anzóis de galho) e fisgas na pesca noturna com silibins.  Convivi com pescadores profissionais que chegavam a fechar o rio e seus afluentes com suas redes imensas, sem respeito ao limite legal das malhas, e sem limite de cotas para suas pescarias.
 
  Assisti ao despejo de esgotos das cidades ribeirinhas, e presenciei a ação das inúmeras bombas tirando água do rio para irrigação, devolvendo-a sem nenhum critério quanto à presença de agrotóxicos.
Assisti ao estranho espetáculo dos grandes peixes detidos pela barragem,  impedidos na sua tentativa de subir o rio para desovar e perpetuar as espécies.
Cheguei a me assustar, surpreendido com a frequente queda de grandes barrancos do rio, provocada pelo desmatamento que chegava até à margem, e presenciei o consequente assoreamento do rio, e a redução do seu volume de água. Vi também o esgotamento permanente de lagoas temporárias, berçários naturais para os peixes do rio, com o objetivo de plantio da terra ou formação de pastos.
Entretanto, o São Francisco ainda dá mostras de vida, e de vez em quando nos chega a notícia de que um pescador teve a sorte de esbarrar com um cardume de dourados, ou de ter feito uma boa pescaria de caranhas (peixe introduzido no rio!). Nas represas já temos os tucunarés (também introduzidos), e ainda há os pescadores de curimbas, peixe nativo do rio que parece ter uma resistência maior a todos esses males.
Por isso, meu coração fica apertado quando vejo uma notícia como a que saiu há dias no jornal O Globo, com o título:  Pesquisadores anunciam a “extinção inexorável” do Rio São Francisco. O artigo se baseia numa extensa pesquisa feita por uma equipe comandada por um professor da UNIVASF - Universidade Federal do Vale do São Francisco, e que registra o estado atual do rio.
Essa pesquisa relata, de maneira técnica e extensa, os fenômenos provocados pelo que eu mencionei acima, e os danos aos peixes, à qualidade da água e à própria vegetação. Não há mais piracema, e o declínio dos cardumes e variedades de peixes é evidente. A pesquisa, usando de documentos históricos de pesquisadores que andaram por aqui há dois séculos, compara a exuberância da flora e da fauna com a situação encontrada agora.
Hoje só restam, segundo a pesquisa,   4% da vegetação original das margens do São Francisco, uma alteração drástica num período de menos de 200 anos, e continua o uso dos recursos naturais do rio como se fossem infinitos. E ainda teremos a transposição de parte das águas do rio, com resultados desconhecidos sobre o mesmo.
O pesquisador aponta um prazo de 10 (dez) anos para que suas previsões se confirmem, passando nós a conviver com um rio semimorto. Espero estar aqui, torcendo para que isso não aconteça e que medidas como aquela,  de recuperação da bacia do Rio das Velhas,  venham a ser tomadas numa maior dimensão, impedindo a morte do Velho Chico. 
COPIADO DO SITE GUIA DE PESCA
← Postagem mais recente Postagem mais antiga → Página inicial